FIA flerta com tragédia e ofusca bi de Verstappen com pior direção – Notícia de Fórmula 1 – Grande Prêmio
MAX VERSTAPPEN É BICAMPEÃO mundial de F1 e merece todos os aplausos. E esse deveria ser o tema principal de todas as análises sobre a temporada 2022 neste momento. Só que é impossível diante do que aconteceu no GP do Japão. Uma vez mais, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) assumiu o protagonismo. O ano desastroso da chefia de corrida viveu neste domingo (9) talvez o pior capítulo da série e, certamente, o mais grave. A direção da entidade beirou a tragédia em ao agir com extrema irresponsabilidade. Não bastasse todas as falhas esportivas e técnicas ao longo da temporada, desta vez houve risco à vida dos pilotos. E isso é inaceitável.
Tudo começa com a decisão de autorizar a largada em meio a um aguaceiro. Cabe um parêntese aqui: sabia-se desde o início da semana que a previsão apontava para chuva pesada no horário da prova, então por que em nenhum momento foi cogitada a possibilidade de antecipar o início da corrida? Isso já aconteceu na F1 antes e não seria novidade. De novo, o comando da categoria ignora a segurança e até mesmo o entretenimento que tanto defende, quando se coloca refém da parte comercial. Dito isso, o que aconteceu a seguir foi uma inacreditável série de erros que culminou com um trator na pista enquanto os carros ainda estavam rodando quase sem visibilidade.
Mesmo com o traçado encharcado, a corrida começou normalmente, mas logo ficou claro que o spray de água seria um fator de perigo. E já na primeira volta, . Porém, a situação do ferrarista acabou por chamar a atenção da direção de prova: a baixa visibilidade e a SF-75 em lugar inseguro convenceram os chefes de que o safety-car seria necessário. Em seguida, veio o chamado para a interrupção da prova por bandeira vermelha.
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Pierre Gasly passa muito próximo a trator na pista em Suzuka (Vídeo: Reprodução/F1)
Aí vem o segundo absurdo: a direção permitiu que tratores entrassem na pista para resgatar não só o carro de Sainz, mas também a Williams de Alex Albon, que parou por problemas técnicos, em meio ao salseiro que foi a primeira volta. Enquanto os carros estavam sendo retirados, o pelotão seguia atrás do SC – detalhe determinante: em condições de visibilidade impraticáveis. Então, .
Ainda no giro inicial, o francês da AlphaTauri, que largara dos boxes, foi atingido por uma placa de publicidade que foi parar no traçado após a colisão de Sainz. Por isso, teve de voltar aos pits, com a peça presa ao bico do carro. Quando retornou à pista, Gasly deu de cara com o veículo de apoio na curva 12, enquanto tentava alcançar o pelotão. A reação do piloto no rádio não deixa dúvida sobre o risco.
“Eu podia ter me matado, porra”, falou um revoltado Pierre. “É inaceitável”, reforçou o piloto. A cena assustadora remeteu instantaneamente ao dramático acidente sofrido por Jules Bianchi em 2014 – o francês colidiu contra um trator que recolhia um carro acidentado sob condições de chuva forte nessa mesma . O piloto morreu quase um ano depois em decorrência desse evento.
A percepção de Gasly não é isolada. O procedimento foi todo errado e colocou, sim, a vida dos pilotos em risco. “Acho que precisamos discutir um trator na pista. Podemos ser breves: isso não pode acontecer, pessoal”, escreveu Alex Wurz em suas redes sociais – o austríaco preside a Associação dos Pilotos. A opinião dele foi compartilhada pelo pai de Bianchi, que mostrou revolta: “Não há respeito pela vida do piloto, não há respeito pela memória de Jules. Inacreditável.”
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, , Christian Horner e outros mais lembraram a tragédia de oito anos atrás e de todos os riscos a que foram expostos. “Mas que porra. Como isso aconteceu? Nós perdemos uma vida nessa situação anos atrás. Nós arriscamos nossas vidas, especialmente em condições assim. Nós queremos correr. Mas isso é inaceitável”,
E não bastasse a falha grave, a FIA decidiu ainda encontrar um culpado: o próprio Gasly – que tomou 20s de punição, além de dois pontos na carteira. A entidade defendeu que a corrida já estava interrompida naquele momento e que Pierre, que tinha parado nos boxes na volta anterior, estava rápido demais para tentar alcançar o pelotão. “Depois de passar pelo local do acidente, o carro número 10 continuou sob bandeira vermelha a velocidade que ultrapassou os 200 km/h em várias ocasiões, e que a certo momento chegou aos 251 km/h. O piloto admitiu que entendeu que poderia haver fiscais ou obstáculos na pista e que estava muito rápido. Também levamos em consideração o choque que o piloto sofreu ao ver um trator no local do acidente”, justificou a entidade que rege o esporte em nota.
O que é inconcebível é a entidade acreditar que o fato de Gasly estar rápido na pista tira responsabilidade dela de misturar um trator no mesmo espaço que carros de corrida numa situação de visibilidade nula.
saiu em defesa do colega e foi no ponto central do debate: “A propósito, você não deve juntar essas coisas: uma é um guindaste na pista e a outra é a velocidade de Gasly. São dois incidentes diferentes.”
“Não há nenhuma regra que diga exatamente o quão rápido você tem de ir atrás do safety-car”, continuou o inglês da Mercedes, acrescentando que somente é preciso ficar dentro do delta. “Se você estiver 10s mais lento dentro do seu delta, então tem o direito de voltar a acelerar e zerar. E é isso que os pilotos fazem”, completou Russell, porque é assim que “você aquece os pneus”. E ele tem razão, afinal, a bandeira vermelha surge para Gasly pouquíssimos segundos antes do quase encontro com o trator. Não dava nem tempo de reagir, pois.
Quer dizer, há uma condescendência atemorizante com o perigo, um flerte desnecessário com a tragédia, além de uma incompetência sistemática dessa direção de prova. Nada explica um trator na pista naquele momento. De novo: especialmente diante da má visibilidade e da chuva torrencial.
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Max Verstappen: oficialmente campeão da F1 2022 (Foto: Red Bull Content Pool)
A grita pelo paddock foi grande, de pilotos a dirigentes. E ainda que exista uma regra para momentos em que o resgate em pista é necessário, não é possível que os fatores adversos não entrem na equação. A FIA confirmou que vai revisar os protocolos adotados durante a corrida. É ótimo e louvável que faça isso, mas é preciso transparência e disposição para admitir os próprios erros.
Por fim, o GP do Japão ainda reservou outras controvérsias: tomou uma punição relâmpago na volta final, o que garantiu o bicampeonato antecipado a Verstappen. Mas o holandês só pode celebrar com segurança muito depois da bandeirada, porque ninguém tinha certeza sobre a pontuação, aparentemente nem mesmo a , que também levou bons minutos até declarar o título ao piloto da Red Bull.
Portanto, levando em consideração todos os recursos tecnológicos, pesquisa, avanços em termos de segurança e sofisticação do esporte, a tem hoje a pior direção de prova da história.
Parabéns aos envolvidos.
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